Um
dia a vida e a morte caminhavam juntas, a vida por sua vez decidiu correr pelos
campos sem direção, livre como uma criança, subiu nas árvores, nadou nos rios,
sentiu a terra como se fosse dela, brincava com os humanos e com os animais. E
a morte apenas a observava de longe. A vida por sua vez gritava: morte não me
acompanharás? E a morte respondia: não vida, tu és tão inconseqüente e egoísta quanto
uma criança, enquanto corrias pelos campos pisastes nas mais bonitas flores, esmagou
os mais úteis insetos. Quando pulastes no rio, jogaste para fora dele todos os
peixes, nadaste no sentido contrario e o desviaste de seu curso. Ao brincar com
os humanos e seus sentimentos, os colocou uns contra os outros, fez perderem a
razão, os valores, a tradição e a honra. Entrou no meio deles sem ser
convidada, brincou e os manipulou. Quando se cansou deles, os deixou tão rápido
e repentino quanto uma brisa numa manha quente de verão. Fez eles se entregarem
aos prazeres das coisas fúteis e efêmeras. Pelas suas brincadeiras, não sabem a
importância da vida, e por sua vez valorizá-la. E a vida gritava de volta: Quem
liga? O importante é viver! Parece ate que você nunca viveu!
E a morte, complacente com o sofrimento
daqueles que se perdiam nos caprichos da vida, encobria-se de ceifá-los, pois não
via outra solução para os pobres coitados. A morte exclamava: ó vida, como és
cruel, por que faz isto com eles? Não vê que você os machuca, manipula e os
ilude? O que ganhas com isso? A vida respondia com um sorriso na cara: faço
porque quero, é divertido e assim faço, não há um sentido. E a vida rolava no
chão de tanto rir das perguntas da morte. E a morte inconformada só podia tirar
dos braços da vida os seres que ela brincava. Longe dali sem ambos saberem, um
velho chamado tempo observa os dois e pensava: Como são bobos os dois, a vida é
uma criança que só liga para suas vontades, chega sem ser convidada, joga tudo
pro alto, mexe com tudo e com todos e quando se cansa vai embora sem avisar ou
pedir desculpas. Ah! A morte... Julga-se tão ponderada, mas não consegues fazer
nada para impedir as atitudes impensadas da vida, julgas suas ações como boas,
mas impõe a sua vontade do modo que queres, não conseguindo ver que causas mais
sofrimento do que alivio para os homens, assim como a vida. E eu sou apenas o
tempo, um velho que se arrasta e observa a todos pela eternidade, resta-me apenas
sentar e esperar que um dia, eles possam ver que o tempo supera tudo. E que a
vida e a morte nada são perante a eternidade.
Estou impressionada! Parabéns pelo trabalho com as palavras e pela iniciativa de compartilha-las com o mundo.
ResponderExcluirNão continue assim, melhore sempre! ;)