Ele foi o artista mais talentoso que conheci, durante anos,
interpretou constantemente e incansavelmente um único papel, dedicou a sua vida
a seu personagem. Usou de todos os truques que os maiores artistas já
inventaram. Ele se embriagou, fantasiou e dissimulou. Quando estava triste, não
se permitia chorar, empunhava a sua mascara e a colocava em seu rosto, em seu
corpo e ate mesmo em seu coração, E assim alegrava todos a sua volta, a platéia
jurava , que a felicidade repousava em sua alma, mas o que eles sabiam do
grande artista? Quando lhe perguntavam como estava à vida, ele sentia vontade
de desabar, de dormir e não mais acordar, e então ele mentia, contava historias
de como sua vida era boa e que seria impossível ter uma vida melhor. E ele
atuou, atuou e atuou... Tanto, que não sabia mais viver sem aquele personagem.
Ah! Mas a que custo ele mantinha aquilo, o preço era tão alto... Como ele não
queria ser nada daquilo, como ele queria ser como os outros e chorar quando estivesse
triste, reclamar da vida que não era boa, cometer os mesmos erros bobos que
todos cometem dia após dia, ele só queria ser normal, Mas ele não podia...
Todos o conheciam por aquele personagem, e ele como um bom artista não podia
decepcionar seu público. Mas ele tinha medo... Medo de descobrirem sua atuação,
medo do que o seu público falaria dele, e então quando achou que não mais
suportaria , voltou os olhos para dentro de si e perguntou: quem é esse que
furto o rosto todo dia e ponho sobre o meu? E ele gritou bem alto para cada
abismo e montanha da sua alma ouvir: Quem é este ser que vive em mim e não sou
eu? E de repente, ele se deu conta de que era um artista, e que interpretava a
peça da sua vida num teatro sem cor, para uma platéia de cegos que não podiam notar
a diferença do amor e da dor. E então o grande artista refletiu: de que me vale
a opinião de uma platéia senil sobre a efêmera peça da minha vida?
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